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MAIOR OBJETIVO É MANTER A DIGNIDADE DO TRABALHADOR

Sindicato dos Padeiros de São Paulo

MAIOR OBJETIVO É MANTER A DIGNIDADE DO TRABALHADOR

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Manter as conquistas das últimas décadas e manter a dignidade de todos os profissionais que trabalham no setor de panificação diante das investidas do governo contra os direitos dos trabalhadores. Esse é o grande objetivo hoje de Chiquinho Pereira, 65 anos, presidente do Sindicato dos Padeiros de São Paulo. Casado, pai de dois filhos, Chiquinho irradia humildade e serenidade, mas é contundente na defesa da categoria. E se emociona, por exemplo, ao atacar as atuais tentativas de governo e empresários de reduzir as exigências da NR12, norma que visa garantir que máquinas e equipamentos tenham dispositivos de segurança para o trabalhador (veja o boxe). O sindicato, hoje filiado à UGT (União Geral dos Trabalhadores), foi fundado há quase 90 anos, em 16/11/1930. Na base da categoria, incluindo padeiros, confeiteiros, balconistas e atendentes, estão 70 mil trabalhadores, 35% deles - quase 25 mil - associados ao sindicato. Chiquinho se orgulha desse percentual. Traduz a confiança dos trabalhadores nas ações desenvolvidas, na preservação de direitos trabalhistas, na oferta de benefícios. É também um percentual que, por meio da contribuição assistencial e da taxa de sindicalização (R$ 10), garante sustentabilidade ao sindicato, mesmo sem a contribuição obrigatória, extinta pela Lei 13.467/17 (reforma trabalhista).

A contribuição anual compulsória era bem-vinda, mas apenas ajudava a complementar o orçamento em iniciativas como a escola de formação, o serviço de homologações e a implantação do Projeto Memória Digital. O único projeto adiado foi o da reestruturação das 4 atuais subsedes (Santo André, Santo Amaro, Osasco e São Miguel Paulista) e de implantação de uma quinta em Mogi das Cruzes. O Projeto Memória Digital tem como objetivo principal preservar, recolher e divulgar digitalmente a memória não só do sindicato, mas também da categoria que ele representa, seus sonhos, lutas e conquistas. É uma iniciativa pioneira de Chiquinho no sentido de promover cultura e estimular a educação complementar dos trabalhadores da categoria e do público em geral. “Quem paga, manda”, diz o presidente ao comentar a força e o respeito conquistados pelo sindicato ao longo de décadas. Essa ponta de orgulho está viva no rosto das pessoas que trabalham na sede situada à rua Major Diogo, 126, no centro de São Paulo. Simples, mas bem preservado, o prédio possui um auditório para 250 pessoas. O sindicato representa os trabalhadores do setor em 17 municípios da Grande São Paulo. São 6 mil padarias e dezenas de indústrias, representadas por dois sindicatos patronais – um para os sete municípios do Grande ABC e outro para os demais. São duas convenções coletivas e cerca de 180 acordos coletivos com empresas ou padarias. Na última convenção, no final de 2019, a grande conquista foi a manutenção de todos os direitos e benefícios que constavam das anteriores, com reajuste salarial linear de 3% e PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de R$ 570,00. Nos acordos coletivos, pelos quais se conseguem mais benefícios e melhores salários, os reajustes variaram de 3,5% a 6%, com PLR de até R$ 2.700. Para atender às demandas da categoria, visitar padarias e empresas, dialogar com os patrões, fechar acordos, fazer o trabalho de sindicalização, entregar o jornal etc., o sindicato dispõe de 17 equipes de visitas às empresas – cada uma com duas pessoas (eram três até novembro de 2019). Os 17 veículos estão nas ruas cinco dias por semana. “Estamos em contato permanente com as bases”, afirma Chiquinho.

...E NESTA HORA EVITAR O PIOR

A curto prazo, diz Chiquinho, “o desafio é manter as conquistas que acumulamos e evitar o pior. Estamos diante de um governo que claramente veio cumprir uma determinação - implantar um tipo de neoliberalismo que prevê o desmonte das instituições civis organizadas, a começar pelos sindicatos. Ou seja, quebrar as pernas dos sindicatos é abrir caminho para criar um país onde os trabalhadores não têm direito algum. A reforma trabalhista de 2017 veio por esse caminho. Todas as outras Medidas Provisórias mergulham cada vez mais nessa mesma linha. O próprio presidente da República já afirmou que sindicato nesse país só serve para fazer greve, queimar pneus e atazanar a vida dos coitados dos empresários que não podem trabalhar de forma tranquila. A nossa preocupação de momento, emergencial, é garantir os direitos conquistados e, a médio prazo, lutar para que as reformas sejam revertidas e essas atrocidades todas evitadas, como no caso da reforma da Previdência. São medidas que não nos deixam dormir. O que será de nossos filhos, de nossos netos? Este governo não tem compromisso algum com os trabalhadores. O neoliberalismo investe contra nossos direitos. Nas últimas negociações, por exemplo, os sindicatos patronais começaram fazendo propostas absurdas, como reajuste de 70% da inflação, extinção da PLR, da cesta básica, do convênio médico, do prêmio pelo Dia do Padeiro, redução do adicional noturno e extinção das Cipas (Comissões Internas de Prevenções de Acidentes) etc.”

NR12, A LUTA CONTRA OS ACIDENTES

Uma das constantes batalhas do Sindicato dos Padeiros de São Paulo sempre foi a preservação das Cipas nas empresas, com foco no setor de panificação, e a garantia de respeito às Normas Regulamentadoras (NR’s), em especial a NR 12, em defesa da saúde e segurança dos trabalhadores. E a batalha continua, mais intensa do que nunca, diante das insinuações atuais de que essas normas só servem para atrapalhar a vida dos empresários. O sindicato tem se destacado no país pela importante contribuição na Comissão Nacional Temática Tripartite/NR 12, por meio do trabalho do assessor Aparecido Alves Tenório (Cidão), que garantiu a obrigatoriedade da implantação de dispositivos de segurança nas máquinas e equipamentos manipulados pela categoria, como os cilindros de massa. Sem esses dispositivos, acidentes são constantes e traumáticos, destruindo a vida de trabalhadores e suas famílias. Na foto do cartaz da campanha do sindicato contra acidentes está a mão de trabalhadora mutilada por um cilindro dentro de uma padaria. Nessa luta, um grupo de trabalhadores com as mãos acidentadas chegou a ser levado por Chiquinho a audiência com empresários e representantes do Ministério Público e do Ministério do Trabalho. Cena chocante, mas eles apenas mostraram suas mãos mutiladas.

CHIQUINHO, 50 ANOS DE TRABALHO PELA CATEGORIA

Chiquinho Pereira começou a militar no sindicato em 1972. São quase 50 anos de lutas. Dois anos depois, em 1974, foi escolhido como membro da Diretoria. No final de 1986 disputou a presidência pela primeira vez e venceu a chapa de oposição apoiada pela CUT. Tomou posse em maio de 1987 e de lá até hoje foi sucessivamente reeleito por unanimidade, sem enfrentar chapas de oposição. Ele carrega, em suas próprias palavras, “uma vontade sem limites de ver os trabalhadores numa condição melhor, tratados com dignidade – uma vontade que até me move a fazer loucuras”. Conhece cada detalhe do trabalho em indústrias do setor e em padarias. Trabalhou muitos anos como confeiteiro e sabe que representa uma categoria com muitos “problemas primários”, às vezes tratada de forma humilhante. Viu funcionários dormindo em padarias serem acordados a pontapés pelo patrão, em desrespeito aos direitos mais elementares, como registro em carteira, pagamentos de feriados, horas extras etc. Chiquinho por vezes “esqueceu” a família e até enfrentou doenças para se dedicar à construção da dignidade daqueles que representa. Com boa formação, sempre teve intensa participação no movimento sindical, na vida política do país, na redemocratização, na campanha pelas Diretas. Em 2008, recebeu o título de cidadão paulistano.